segunda-feira, 16 de abril de 2007

SETE MIL REAIS EM ÁGUA POTÁVEL


a coluna de ontem da mônica bergamo acabou com meu domingo. dizia que, comparado ao pequeníssimo crescimento do pib em 2006 (3,7%), o mercado brasileiro de luxo explodiu, crescendo 32% e alongando seus tentáculos até o nordeste, o centro e o sul do país. é claro que eu quero que as coisas se desenvolvam no brasil inteiro, mas esse é um país de milhões de miseráveis e não tem graça nenhuma saber que o que cresce é o mercado de luxo.

recentemente, assisti a uma reportagem assustadora sobre uma daquelas ilhas localizadas no centro de Recife (PE). no centro de uma das maiores capitais do país, além de esgoto a céu aberto, correndo solto na porta das casas (se é que podemos chamá-las de casas), simplesmente não existe água potável. água potável!!! e o mais assustador é que, nessa mesma recife, ainda segundo a bergamo, a coleção de bolsas da prada, que chegou em janeiro na loja "dona santa/santo homem" (conhecida como "daslu do nordeste"(sic)), já acabou. o preço de cada bolsa? sete mil reais!

sete mil reais por um saco para carregar perfume de mau gosto, cartão de crédito do marido e um celular com capinha cor-de-rosa????
...desculpa, foi só um desabafo. tento respeitar qualquer estilo de imagem e de vida, mas gastar sete mil reais numa bolsa é muita falta de elegância e de inteligência.

essas mulheres, ao invés de gastar dinheiro com revistas de moda importadas, em que só sabem ler (quando sabem) as fotos, deveriam prestar atenção ao que vem escrito na lombada da edição brasileira da marie claire: chic é ser inteligente.

outra coisa que me mata no mercado de luxo são os resorts, que acabam com a liberdade das populações locais. como a maioria de seus consumidores "não gosta de preto e nem fala com pobre" (frase do rappin hood), os nativos passam a ser impedidos de circular livremente pelas praias. os pretos e pobres que se vê são os que estão ali para servir, como as babás, coitadas, que agora têm de se vestir de branco, que é pra deixar cada vez mais cristalina a sua posição segregada.

ah, nos resorts, homens pretos e pobres também servem para, de madrugada, encher de porra as bocas e cús dos empresários viados-enrustidos à caça. já com as mulheres pretas e pobres, quando não com as crianças escurinhas e pobrinhas, é exatamente o contrário: essas servem para se encher da porra dos turistas que pagam mal.

os novos-ricos brasileiros estão tão acorrentados ao pilar mais decadente da revolução burguesa - o da ostentação, que estão tentando varrer de perto deles os pretos e pobres, que não pertencem à classe AA, ou AAA (onde já se viu isso? não se satisafaziam em denominar-se A?). mas eles não sabem que estão brincando com fogo.

já não há quem segure aquele que apenas quer muito. quem segurará, então, um povo inteiro, quando ele souber que pode muito?

a maria antonieta, além de menina, acostumou-se a conhecer apenas as pequenezas do castelo de versailles, isso é verdade. mas não venha me dizer que os ricos brasileiros não sabem o que tá acontecendo no semáforo. ahhhh, isso é mentira!
* a foto, de spencer platt, é vencedora do world press photo 2006 e foi feita numa cidade libanesa durante os conflitos com israel.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

PARA QUEM NÃO TEM MEDO DE BELEZA


bravo! ao gustavo haddad, que fica o tempo todo ajoelhado, pelado e amarrado, de frente para a platéia, em "hoje é dia do amor", texto de joão silvério trevisan e direção de antônio cadengue.
ele é um escravo sadô-masô que conversa com seu master (que a gente não vê), e lamenta o recente suicídio de um amigo, desencadeando uma série de questionamentos (amor, jesus cristo, carência, dor...), sobre os quais o texto não dá conta de se aprofundar. sua forte interpretação está ainda impaciente e carente de direção, mas o impacto visual que ela causa é inesquecível.
além da fraqueza do texto verborrágico, o nosso corpo e a nossa corporalidade são tão velados que, sem viadagem nenhuma, o mais importante do espetáculo é sentir a intensidade de assistir ao corpo perfeito do haddad, superiluminado, dentro de uma caixa estilo "a monga", com um fundo inspirado em esboços de pintura barroca. Faz refletir mais sobre a beleza física do que sobre as questões propostas mesmo pelo autor, mas isso não diminui em nada a inteligência da proposta.
nem se preocupe com essas questões. além de talentoso, gustavo é o ator mais bonito de sua geração e temos de entender que somente um gênio poderia escrever algo que desviasse a atenção de sua imagem hipnótica. não é o caso: fique com a imagem.
é similar a uma oportunidade de ver david em movimento. e se david ofusca qualquer coisa naqueles corredores da "academmia di belle arti firenze", o corpo de gustavo haddad, ali, à disposição (e não) da platéia, torna desimportante qualquer dúvida e evoca os gênios de michelangelo, da vinci, caravaggio, mapplethorpe, jan saudek e pierre&gille.
até junho, todas as quintas, às 19 horas, no Espaço dos Satyros 1.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

BETTY BLUE


há mais de dois anos, a valéria golino e o vincenzo amato, em "respiro", são o último dos casais que habitam o meu desejo. porque ela é louca e porque ele é lindo e apaixonado. e em muitos dias eu queria morar naquela ilha e fazer sexo naquele quintal, ou naquela cama, ou naquela gruta, ou naquele barco ou naquele mar. definitivamente sob aquele sol.

por esse seu segundo longa, e também pelo terceiro e último, "mundo novo" (2006), o italiano emanuele crialese já é um diretor que eu sei que vou gostar muito. e o vincenzo amato, para minha felicidade, parece ser seu ator-fetiche, porque é o protagonista de "mundo novo", que é surreal, não no sentido da gíria (eu não gosto dessas giriazinhas burguesas), mas no sentido literal do adjetivo. o filme surpreende com cenouras e cebolas maiores que seres humanos e com um mar de leite. algumas vezes "sob" a música assustadoramente bela produzida pelas mãos e pela voz da nina simone.

mas, voltando...somente na hora de postar essa foto é que percebi que essa coisa dela ser louca e casada com um cara muito lindo e apaixoando é exatamente a premissa de outro filme cujo casal já nem faz mais cerimônia em tanto assombrar meu desejo: "betty blue", que tem a melhor cena de sexo da história do cinema, pra mim.

FALO

eu detesto blogs egocêntricos mas mesmo assim vou começar o meu com uma foto minha, porque não tenho outra melhor agora. fiquei procurando alguma pintura do tiepolo, um pintor veneziano do final do séc. XVII, que é meu favorito, ou do francis bacon, porque é parecido com o que estou sentindo hoje, mas não consegui postar. não sou bom com tecnologia, costumo dizer que tenho a alma antiga - ou velha mesmo. procurei também algum still do filme italiano "respiro", do emanuele crialese, porque é lindo e arejado, mas não achei nenhuma antes do almoço. agora cheguei e usei a minha foto mesmo, que se chama "bôca" (ou "falo", dependendo do horário). mas decidi que vou postar uma foto do "respiro" também.